️ 11: Membrana Mitocondrial como Vulnerabilidade — Explorando Terapias em Clonagem Hematopoética com Mutação em DNMT3A

️ 11: Membrana Mitocondrial como Vulnerabilidade — Explorando Terapias em Clonagem Hematopoética com Mutação em DNMT3A
Base por Base
️ 11: Membrana Mitocondrial como Vulnerabilidade — Explorando Terapias em Clonagem Hematopoética com Mutação em DNMT3A

Jul 09 2025 | 00:11:53

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Episode 11 July 09, 2025 00:11:53

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Gustavo Barra Gabriela Barra

Show Notes

Episódio 11: Membrana Mitocondrial como Vulnerabilidade — Explorando Terapias em Clonagem Hematopoética com Mutação em DNMT3A

Neste episódio do Base por Base, mergulhamos no estudo de Young et al. (2025), publicado em Nature Communications, que identifica um ponto fraco das células-tronco hematopoéticas com mutação em Dnmt3a: o elevado potencial de membrana mitocondrial. Os autores mostram que essa alteração, decorrente de hipometilação e aumento da expressão de genes de fosforilação oxidativa, confere maior capacidade respiratória e dependência do metabolismo mitocondrial. Com base nisso, moléculas lipofílicas carregadas positivamente, como MitoQ e d-TPP, são atraídas pelas mitocôndrias mutantes, inibem seu funcionamento e desencadeiam apoptose seletiva, revertendo o crescimento clonal tanto em modelos murinos quanto em células humanas.

Principais destaques: o potencial de membrana mitocondrial de HSPCs Dnmt3a-mutantes é significativamente aumentado em função da hipometilação e da superexpressão de vias de fosforilação oxidativa; ensaios de fluxo metabólico demonstraram que essas células exibem maior consumo de oxigênio e capacidade respiratória, sem mudanças na via glicolítica; compostos TPP+ de cadeia longa, especialmente MitoQ e d-TPP, acumulam-se preferencialmente nas mitocôndrias mutantes, bloqueiam a respiração mitocondrial e induzem apoptose; experimentos de colônias ex vivo e transplantes em camundongos de meia-idade mostraram que a administração breve de MitoQ elimina a vantagem competitiva das células mutantes; culturas de HSPCs humanas com knockdown de DNMT3A confirmam a conservação desse mecanismo e o potencial translacional dos alvos mitocondriais.

Conclusão: Este trabalho inaugura uma abordagem terapêutica baseada na exploração do alto potencial de membrana mitocondrial, oferecendo uma estratégia seletiva para conter a expansão de clones patológicos em clonal hematopoiese com mutação em DNMT3A.

Referência: Young, K. A., Hosseini, M., Mistry, J. J., Morganti, C., Mills, T. S., Cai, X., … Trowbridge, J. J. (2025). Elevated mitochondrial membrane potential is a therapeutic vulnerability in Dnmt3a-mutant clonal hematopoiesis. Nature Communications, 16, 3306.

Licença: Este episódio é baseado em um artigo de acesso aberto sob Creative Commons Attribution 4.0 International (CC BY 4.0) – https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/

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Episode Transcript

[00:00:15] Speaker A: Bem-vindo ao Base por Base, o podcast que leva descobertas genômicas aonde você estiver. Já parou pra pensar, assim, o que acontece quando algumas células do nosso sangue meio que acham um jeito de enganar o envelhecimento, sabe? Ganham uma vantagem, começam a se multiplicar mais? [00:00:31] Speaker B: É uma ideia intrigante, né? [00:00:33] Speaker A: Pois é. Mas e se essa força toda, na verdade, escondeu uma fraqueza? Uma fragilidade que ninguém esperava? [00:00:41] Speaker B: Exato. [00:00:42] Speaker A: Hoje a gente vai fundo nisso. Como mutações bem discretas podem dar esse gás competitivo para as células-tronco do sangue, um processo que a gente sabe que está ligado a doenças do envelhecimento, mas como isso funciona de verdade? E mais importante, será que dá para reverter? [00:00:59] Speaker B: Olha, pra começar, é fundamental reconhecer o trabalho da equipe liderada por Jennifer J. Trowbridge e, claro, seus colaboradores de várias instituições de peso, como o The Jackson Laboratory, o Princess Margaret Cancer Center, Albert Einstein College of Medicine. Foi um esforço conjunto bem importante. [00:01:18] Speaker A: Com certeza. [00:01:19] Speaker B: O estudo deles deu uma luz fundamental sobre como essas mutações específicas, sabe, mexem com as nossas células-tronco hematopoéticas, as que formam o sangue, principalmente conforme a gente envelhece. [00:01:31] Speaker A: Certo. Então, para todo mundo ficar na mesma página, com o tempo pode surgir um fenômeno chamado hematopoiese clonal. É isso, né? [00:01:40] Speaker B: Isso. Basicamente é quando um clone, um grupo de células-tronco e progenitoras hematopoéticas, que são as células mestras do sangue, começa a dominar o pedaço. [00:01:50] Speaker A: E por quê? [00:01:51] Speaker B: Por causa de mutações que elas vão acumulando. E as mais comuns, de longe, são num gene chamado DNMT3A. [00:01:58] Speaker A: DNM3A, ok. E o que ele faz? [00:02:02] Speaker B: Esse gene, o DNM3A, ele produz uma enzima-chave. Ela coloca umas marquinhas químicas no DNA, um processo chamado mitilação. Isso ajuda a controlar se os genes ficam ligados ou desligados, tipo um interruptor. [00:02:17] Speaker A: Entendi. E essa hematopoese clonal, essa expansão, é um problema? [00:02:23] Speaker B: É, pode ser. Aumenta o risco de problemas sérios, tipo alguns cânceres no sangue, doenças cardiovasculares também. O mistério era, por que exatamente essas células com mutação ganham essa vantagem toda? Especialmente no cenário de envelhecimento, que não tem uma inflamação óbvia rolando. Era um quebra-cabeça. [00:02:43] Speaker A: Tá, faz sentido, mas como é que os pesquisadores foram atrás dessa resposta? Qual foi a estratégia, as ferramentas que eles usaram para desvendar essa relação complexa entre mutação, idade e metabolismo da célula? [00:02:58] Speaker B: Então, eles tiveram uma abordagem bem completa, sabe? Primeiro, usaram um modelo de camundongo que tinha uma mutação específica no gene DMT3A, a versão do camundongo para esse gene humano. [00:03:10] Speaker A: Certo, um modelo animal. [00:03:11] Speaker B: Exato. Aí fizeram transplantes competitivos de medula óssea. Colocaram células normais e mutantes para competir, lado a lado, em camundongos jovens e também naqueles com níveis baixos de um fator de crescimento, o IGF-1. Isso meio que imitava algumas características do ambiente envelhecido. [00:03:28] Speaker A: Ah, interessante essa simulação do envelhecimento. E para medir o metabolismo? [00:03:33] Speaker B: Aí que tá. Eles mediram como as células usavam energia, focando muito na respiração das mitocôndrias. Usaram ensaios de fluxo extracelular, uma técnica chamada Seahorse, para ver o consumo de oxigênio e outras coisas. [00:03:47] Speaker A: E a parte molecular? Como viram o efeito da mutação no DNA e nos genes? [00:03:51] Speaker B: Bom, para entender a metilação, fizeram um sequenciamento de bisulfito do genoma completo. É uma técnica que mapeia justamente aquelas marcas no DNA. E para ver quais genes estavam ativos ou não, fizeram análise de transcriptoma, o RNA-Seq. [00:04:07] Speaker A: Entendi. [00:04:08] Speaker B: E não parou aí. Testaram também o efeito de inibidores metabólicos, tipo a oligomicina, que trava a produção de energia na mitocôndria. E usaram as moléculas mais direcionadas, que vão direto para a mitocôndria, como o mitoque, e os derivados de uma coisa chamada trifenilfosfônio, o TPP. [00:04:25] Speaker A: TPP. E com células humanas fizeram algo? [00:04:28] Speaker B: Fizeram sim, para confirmar. Usaram células-tronco e progenitoras hematopoéticas humanas, onde eles diminuíram artificialmente a função do DNM3A. Isso foi crucial para ver se o efeito se mantinha. [00:04:40] Speaker A: Uau, bem completo mesmo. Ok, então, com toda essa investigação, quais foram as grandes descobertas? O que saltou aos olhos? [00:04:49] Speaker B: Bom, primeiro, eles confirmaram o que já se suspeitava. As células-tronco e progenitoras hematopoéticas com a mutação DNM3A realmente têm uma vantagem competitiva em ambientes que imitam o envelhecimento. Elas se expandem mais, dominam. [00:05:07] Speaker A: E essa vantagem veio mesmo do metabolismo diferente que você mencionou? [00:05:11] Speaker B: Sim, e aqui está o ponto central, o mais fascinante. Essa vantagem está ligada diretamente a uma maior atividade das mitocôndrias, Essas células mutantes, elas respiram mais, metabolicamente falando, e têm uma capacidade maior de aumentar essa respiração se precisar, uma reserva maior. [00:05:31] Speaker A: Como a mutação naquele gene, o DNM3A, causa isso? Qual a conexão? [00:05:38] Speaker B: Então, a mutação faz a enzima perder a função dela. Sem a metilação funcionando direito, o DNA fica com menos marcas em certas regiões. Fica hipometilado. [00:05:49] Speaker A: Menos metilado? [00:05:50] Speaker B: Isso. E eles viram que essa hipometilação acontecia justamente em genes ligados à fosforilação oxidativa. [00:05:57] Speaker A: Que é o processo de gerar energia na mitocôndria. [00:06:00] Speaker B: Exatamente. Com menos metilação nesses genes, eles ficam mais ativos. A usina de energia trabalha mais. [00:06:07] Speaker A: Então as mitocôndrias dessas células ficam, tipo, turbinadas? Superativas? [00:06:12] Speaker B: Funcionalmente, é uma boa analogia. Elas mostraram um potencial de membrana mitocondrial mais elevado. É uma medida da carga de energia da mitocôndria. que a gente chama de ΔΨm. O interessante é que não tinha mais mitocôndrias, nem a forma delas mudava muito. A diferença era na função mesmo, nessa voltagem interna maior. [00:06:34] Speaker A: Então, a característica que dá vantagem para elas acaba sendo também um ponto fraco que revira a volta. Essa voltagem maior tem alguma consequência prática para a célula? [00:06:46] Speaker B: Exato, essa é a sacada. Esse potencial de membrana elevado torna as células mutantes mais dependentes da respiração mitocondrial para sobreviver e por isso mesmo ficam mais sensíveis a inibidores como aquela oligomicina que mencionei. Mas a descoberta mais, digamos, direcionada veio com outras moléculas como o mitoque e aqueles derivados de TPP. [00:07:11] Speaker A: O que elas têm de tão especial? [00:07:13] Speaker B: Elas têm uma carga positiva e uma estrutura química que faz com que sejam atraídas e se acumulem preferencialmente dentro das mitocôndrias, que têm esse potencial de membrana mais alto. [00:07:24] Speaker A: Elas vão direto para as mitocôndrias das células mutantes. Por que estão mais carregadas? Um direcionamento quase natural? [00:07:31] Speaker B: É isso aí! Elas se concentram muito mais nas mitocôndrias das células mutantes de NM3A do que nas células normais. [00:07:39] Speaker A: Genial! E o que acontece quando elas se acumulam lá dentro? [00:07:42] Speaker B: Bom, esse acúmulo seletivo atrapalha a respiração mitocondrial e, o mais importante, dispara a apoptose, a morte celular programada, mas de forma específica nas células mutantes. [00:07:55] Speaker A: Mata só as mutantes. [00:07:57] Speaker B: Principalmente elas. Com isso, a vantagem competitiva delas vai por água abaixo. Isso foi visto tanto em testes no laboratório com formação de colônias, quanto nos próprios camundongos envelhecidos. A expansão clonal diminuiu. [00:08:10] Speaker A: Incrível! E funcionou em células humanas também? Você disse que testaram. [00:08:14] Speaker B: Funcionou. E isso é super importante, claro. O mesmo efeito de vulnerabilidade foi visto nas células progenitoras humanas com o DNT3A silenciado. Isso sugere que esse mecanismo, essa fraqueza, é conservado entre as espécies, o que aumenta a relevância para a gente. Então, amarrando tudo isso, o que a gente vê é que essa atividade mitocondrial orientada, especialmente esse potencial de membrana alto, não é só uma curiosidade. É um mecanismo-chave que dá a vantagem seletiva para células com mutação em DNMT3A na hematopoiese clonal. [00:08:46] Speaker A: Isso realmente parece uma vulnerabilidade que dá para explorar com remédios. A própria fonte da força delas é o calcanhar de Aquiles metabólico. [00:08:56] Speaker B: Precisamente. Abre uma janela terapêutica bem interessante. Moléculas como o mitoque e aqueles derivados de TPP que eles estudaram surgem como candidatos promissores. O mitoque, por exemplo, já foi até testado em humanos para outras coisas, em fase 2, e mostrou um perfil de segurança razoável. E tem mais, pode até ter um benefício duplo. [00:09:19] Speaker A: Duplo? Como assim? Explica isso. [00:09:21] Speaker B: É que, além de mirar nas células mutantes, o mitoque também é um antioxidante. Em teoria, ele poderia até ajudar as células-tronco normais, que também sofrem com o estresse do envelhecimento, sabe? É uma possibilidade intrigante, mas claro, ainda é cedo para afirmar. [00:09:36] Speaker A: Entendi. Mas tem desafios, né? Limitações. [00:09:39] Speaker B: Com certeza. É preciso ter cautela. A gente precisa de mais estudos para definir dose certa, quanto tempo dura o efeito, efeitos colaterais a longo prazo. Ainda mais pensando que a hematopoese clonal, sozinha, não é uma doença ativa. É mais um fator de risco. E vale lembrar que já existem outros remédios aprovados, como a metformina para diabetes e o tamoxifeno para câncer de mama, que também afetam as mitocôngrias. Talvez eles possam ser investigados nesse contexto também. [00:10:09] Speaker A: Certo. Então, para resumir a história toda, as células-tronco do sangue, que ganham mutações comuns no envelhecimento, tipo no DNMT3A, elas se destacam, ganham vantagem, porque as mitocôndrias delas ficam superativas. É isso? [00:10:25] Speaker B: Exatamente. [00:10:26] Speaker A: Mas essa hiperatividade toda é, na verdade, o ponto fraco delas que pode ser explorado. [00:10:31] Speaker B: É isso aí. Moléculas que são atraídas especificamente para essas mitocôntrias mais carregadas conseguem eliminar seletivamente essas células mutantes. Isso abre um caminho novo para pensar. [00:10:44] Speaker A: Em estratégias Fica então a pergunta, né? O que essa compreensão tão detalhada do metabolismo dessas células significa para o futuro? Para desenvolver, talvez, intervenções que possam não só frear essa expansão clonal, mas quem sabe até rejuvenescer o nosso sistema sanguíneo e diminuir os riscos de doenças do envelhecimento, atacando diretamente a fonte de energia das células. Este episódio foi baseado em um artigo de acesso aberto sob a licença CC-BI 4.0. Você pode encontrar um link direto para o artigo e a licença na descrição do episódio. Se achou esta análise valiosa, avalie com 5 estrelas no seu app de podcasts favorito e torne-se membro para receber os episódios antes de todo mundo. Acompanhe também a versão em inglês deste podcast, o Base by Base. Obrigado por ouvir e até o próximo Base por Base.

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